Kitesurf: Uma modalidade nova em que todos já pedem federação
"O Kitesurf surgiu em Portugal nos finais dos anos 90 tomando de assalto as praias e lagoas de Norte a Sul, ganhou milhares de praticantes, reuniu-se em associação na APKite em 2002, mas agora quer crescer e tornar-se num desporto federado.
O desejo é comum a todos, desde os anónimos praticantes até aos dirigentes da Associação Portuguesa de Kite (APKite), responsável pelas três edições do Circuito Nacional, que já em Fevereiro levaram o assunto a Assembleia Geral, tendo sido aprovado por maioria a sua transformação em federação.
?Espero que isso possa vir a acontecer até o final do ano, princípio do próximo. Já podia ter sido criada, se tudo tivesse corrido bem?, adiantou à agência Lusa o vice-presidente da APKite, João Correia.
O responsável referiu que o próximo passo é chamar ?mais pessoas? para assumir responsabilidades dentro da modalidade e depois terminar o trabalho de elaboração dos estatutos e regulamentos, para que sejam convocadas eleições para os corpos sociais e pedido o ?estatuto de utilidade pública?.
Ainda assim, Portugal está na vanguarda do associativismo no Kitesurf, sendo um dos três países europeus, a par da Inglaterra e da Dinamarca, com associações autónomas. Na Alemanha, a associação está inscrita na federação de vela.
Este é, aliás, um cenário que tem vindo a preocupar os ?riders? nacionais, sendo por isso mais uma das razões que impulsiona os praticantes a encararem a necessidade de serem representados por uma federação própria.
As asas coloridas semelhantes a parapentes são um dos novos ?postais? das costas nacionais, passaram a ilustrar muitas brochuras sobre Portugal e alguns documentários publicitários, mesmo de outras modalidades, mas a realidade está longe da imagem harmoniosa dos ?riders? voando sobre as águas.
O Kitesurf enfrenta agora as dores próprias do crescimento, debate-se com várias contradições e precisa, sobretudo, de ganhar um novo estatuto, nomeadamente junto das entidades públicas, pelo que não será de estranhar o clamor geral pela necessidade de ver surgir a Federação Portuguesa de Kitesurf (FPK).
?É fundamental que se crie uma federação, por muitas razões?, defende Rui Vieira, da Kite Temple, uma das dezena e meia de escolas que ministra cursos da modalidade em todo o país e que em meados de Agosto organiza o primeiro grande festival da modalidade, na Praia da Nova Vaga, na Costa da Caparica.
Aluna em aprendizagem
Um dos principais problemas do Kitesurf é exactamente a necessidade de ?ser criada regulamentação para a certificação das escolas?, defende Rui Vieira, lembrando que a modalidade não está isenta de riscos para os praticantes, não podendo por isso ser ?ensinada? de forma displicente, em ?escolas de três ou quatro alunos, por quem não está qualificado para tal?.
O responsável pela Kite Temple fala ainda de quão importante é uma mudança na própria mentalidade de quem gere os destinos no Kitesurf em Portugal.
?As pessoas ainda estão no Kite por carolice. O amadorismo complica as coisas e terá de passar-se para uma mentalidade mais profissional?, sublinha.
No vasto leque de problemas que o Kitesurf enfrenta, avulta a necessidade de serem concessionadas mais praias em todo o país para a prática da modalidade - as chamadas ?kitebeaches? -, uma vez que apenas Nova Vaga e o Cabedelo, em Viana do Castelo, possuem áreas delimitadas para os praticantes e alunos.
O facto de apenas, recentemente, terem sido delimitadas leva os banhistas a não prestarem a devida atenção aos limites das zonas concessionadas, criando por vezes situações de atrito com os outros utilizadores das praias.
Mesmo nas áreas já concessionadas, o nível de equipamento deixa a desejar. Os praticantes pedem mais infra-estruturas, como a criação de ?áreas lisas? (sem areia), para a montagem e desmontagem das ?asas?, cacifos ou simples chuveiros.
A criação de uma federação, dotada de estatuto público, com gestão profissional, poderá facilitar o contacto com as câmaras detentoras de praias com condições para o Kitesurf, criando condições para a atribuição de novas concessões e melhoria das infra-estruturas das já existentes.
?Uma federação poderia trabalhar exactamente para que houvesse mais e melhor regulamentação, mais sítios para praticar e tornaria ao Kitesurf mais visível para o próprio Estado?, defende Gustavo Martins, da F-One Portugal.
É, no mínimo, estranho que num Algarve bordejado por praias não exista qualquer espaço concessionado ao kitesurf.
No horizonte poderá ainda estar a hipótese do Kitesurf se transformar em desporto olímpico, e João Correia não hesita ao frisar que a modalidade ?tem mais possibilidades de o conseguir do que o próprio surf?.
A questão do seguro desportivo também preocupa os kitesurfistas nacionais.
Actualmente, muitos praticantes procuram a APKite para adquirem o seguro que a associação disponibiliza.
Rui Gonçalves, também da Kite Temple, sustenta que a criação de uma federação, organizada em torno de escolas, clubes e associações, facilitará o diálogo com as seguradoras para a melhoria das condições das apólices, tanto ao nível das coberturas, como dos preços, para as escolas e eventuais clubes de Kitesurf que venham a ser formados.
O actual seguro proporcionado pela APKite (40 euros anual), foi conseguido a custo pela associação junto da Fidelidade, depois da AXA ter deixado de os realizar e a Tranquilidade ter exigido um valor muito superior.
Portugal é um dos países europeus com melhores características para a modalidade em toda a Europa, com condições apenas comparáveis às de Tarifa (Espanha), a ?Meca? da modalidade, ou algumas praias do norte da França.
?Os estrangeiros ficam malucos com as nossas condições e as nossas praias. Todos os dias temos aí gente de toda a Europa?, disse Rui Vieira, acrescentando: ?Era bom que as câmaras também o compreendessem e criassem condições para os praticantes e os muitos turistas que nos visitam?.
As condições estão aí, as praias também, os praticantes adoram as ondas de Portugal, o país tem um praticante no ?top-10? mundial, o jovem Rui Meira, a vontade de ir mais além é unânime, resta saber se a modalidade vai mesmo dar o salto."
Jorge Figueira
in Falcão do Minho
Viana do Castelo, Quinta, 17 de Agosto de 2006
O desejo é comum a todos, desde os anónimos praticantes até aos dirigentes da Associação Portuguesa de Kite (APKite), responsável pelas três edições do Circuito Nacional, que já em Fevereiro levaram o assunto a Assembleia Geral, tendo sido aprovado por maioria a sua transformação em federação.
?Espero que isso possa vir a acontecer até o final do ano, princípio do próximo. Já podia ter sido criada, se tudo tivesse corrido bem?, adiantou à agência Lusa o vice-presidente da APKite, João Correia.
O responsável referiu que o próximo passo é chamar ?mais pessoas? para assumir responsabilidades dentro da modalidade e depois terminar o trabalho de elaboração dos estatutos e regulamentos, para que sejam convocadas eleições para os corpos sociais e pedido o ?estatuto de utilidade pública?.
Ainda assim, Portugal está na vanguarda do associativismo no Kitesurf, sendo um dos três países europeus, a par da Inglaterra e da Dinamarca, com associações autónomas. Na Alemanha, a associação está inscrita na federação de vela.
Este é, aliás, um cenário que tem vindo a preocupar os ?riders? nacionais, sendo por isso mais uma das razões que impulsiona os praticantes a encararem a necessidade de serem representados por uma federação própria.
As asas coloridas semelhantes a parapentes são um dos novos ?postais? das costas nacionais, passaram a ilustrar muitas brochuras sobre Portugal e alguns documentários publicitários, mesmo de outras modalidades, mas a realidade está longe da imagem harmoniosa dos ?riders? voando sobre as águas.
O Kitesurf enfrenta agora as dores próprias do crescimento, debate-se com várias contradições e precisa, sobretudo, de ganhar um novo estatuto, nomeadamente junto das entidades públicas, pelo que não será de estranhar o clamor geral pela necessidade de ver surgir a Federação Portuguesa de Kitesurf (FPK).
?É fundamental que se crie uma federação, por muitas razões?, defende Rui Vieira, da Kite Temple, uma das dezena e meia de escolas que ministra cursos da modalidade em todo o país e que em meados de Agosto organiza o primeiro grande festival da modalidade, na Praia da Nova Vaga, na Costa da Caparica.
Aluna em aprendizagem
Um dos principais problemas do Kitesurf é exactamente a necessidade de ?ser criada regulamentação para a certificação das escolas?, defende Rui Vieira, lembrando que a modalidade não está isenta de riscos para os praticantes, não podendo por isso ser ?ensinada? de forma displicente, em ?escolas de três ou quatro alunos, por quem não está qualificado para tal?.
O responsável pela Kite Temple fala ainda de quão importante é uma mudança na própria mentalidade de quem gere os destinos no Kitesurf em Portugal.
?As pessoas ainda estão no Kite por carolice. O amadorismo complica as coisas e terá de passar-se para uma mentalidade mais profissional?, sublinha.
No vasto leque de problemas que o Kitesurf enfrenta, avulta a necessidade de serem concessionadas mais praias em todo o país para a prática da modalidade - as chamadas ?kitebeaches? -, uma vez que apenas Nova Vaga e o Cabedelo, em Viana do Castelo, possuem áreas delimitadas para os praticantes e alunos.
O facto de apenas, recentemente, terem sido delimitadas leva os banhistas a não prestarem a devida atenção aos limites das zonas concessionadas, criando por vezes situações de atrito com os outros utilizadores das praias.
Mesmo nas áreas já concessionadas, o nível de equipamento deixa a desejar. Os praticantes pedem mais infra-estruturas, como a criação de ?áreas lisas? (sem areia), para a montagem e desmontagem das ?asas?, cacifos ou simples chuveiros.
A criação de uma federação, dotada de estatuto público, com gestão profissional, poderá facilitar o contacto com as câmaras detentoras de praias com condições para o Kitesurf, criando condições para a atribuição de novas concessões e melhoria das infra-estruturas das já existentes.
?Uma federação poderia trabalhar exactamente para que houvesse mais e melhor regulamentação, mais sítios para praticar e tornaria ao Kitesurf mais visível para o próprio Estado?, defende Gustavo Martins, da F-One Portugal.
É, no mínimo, estranho que num Algarve bordejado por praias não exista qualquer espaço concessionado ao kitesurf.
No horizonte poderá ainda estar a hipótese do Kitesurf se transformar em desporto olímpico, e João Correia não hesita ao frisar que a modalidade ?tem mais possibilidades de o conseguir do que o próprio surf?.
A questão do seguro desportivo também preocupa os kitesurfistas nacionais.
Actualmente, muitos praticantes procuram a APKite para adquirem o seguro que a associação disponibiliza.
Rui Gonçalves, também da Kite Temple, sustenta que a criação de uma federação, organizada em torno de escolas, clubes e associações, facilitará o diálogo com as seguradoras para a melhoria das condições das apólices, tanto ao nível das coberturas, como dos preços, para as escolas e eventuais clubes de Kitesurf que venham a ser formados.
O actual seguro proporcionado pela APKite (40 euros anual), foi conseguido a custo pela associação junto da Fidelidade, depois da AXA ter deixado de os realizar e a Tranquilidade ter exigido um valor muito superior.
Portugal é um dos países europeus com melhores características para a modalidade em toda a Europa, com condições apenas comparáveis às de Tarifa (Espanha), a ?Meca? da modalidade, ou algumas praias do norte da França.
?Os estrangeiros ficam malucos com as nossas condições e as nossas praias. Todos os dias temos aí gente de toda a Europa?, disse Rui Vieira, acrescentando: ?Era bom que as câmaras também o compreendessem e criassem condições para os praticantes e os muitos turistas que nos visitam?.
As condições estão aí, as praias também, os praticantes adoram as ondas de Portugal, o país tem um praticante no ?top-10? mundial, o jovem Rui Meira, a vontade de ir mais além é unânime, resta saber se a modalidade vai mesmo dar o salto."
Jorge Figueira
in Falcão do Minho
Viana do Castelo, Quinta, 17 de Agosto de 2006
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